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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Crónicas do Antro - IV ("Ai vens aqui dar trabalho? Espera que já te lixo...")


"Ai vens aqui dar trabalho? Espera que já te 

lixo..."

 por: Mestre Perverso


E cá estamos, pessoal! Então, tudo fino? Assim é que é... bola p'rá frente e força (mas cuidado com os carros e as janelas dos vizinhos).
 
Já cá tivemos a estreia da Constança Façonnable, esse fenómeno da análise das actualidades, que a Mestra Placa Central foi desencantar não sei onde. Na Confraria, as opiniões dividem-se: uns dizem que são colegas de manicure, outros avançam com a hipótese de terem o mesmo turno de voluntariado no lar de idosos. Seja como fôr, se ainda não leram, façam o favor, é um post curto, mas pleno de graça e acutilância.
Para a nossa compagnon de route, os mais sinceros votos de sucesso nestas coisas de blogs (e muitas gargalhadas, especialmente com as escabioses). Se precisar diga, que eu empresto-lhe a chibata, cara Constança.
 
Anda tudo louco com o fenómeno Marinho e Pinto. É Marinho e Pinto para aqui, Marinho e Pinto para ali, "Marinho e Pinto a Presidente", "Marinho e Pinto, o salvador da Pátria", "quero ter um filho teu, Marinho e Pinto", "Marinho e Pinto homem do ano da revista Time", "Marinho e Pinto bola de ouro", ""quem? AJJ? nem sei quem é esse senhor!", declara Marinho e Pinto"... O fulano anda por aí mais inchado que um peru (cuidado, veja lá se consegue sobreviver ao Natal), e o MPT por arrasto, já que passar de uns míseros 0,66% em 2009 para uns estrondosos 7,15% nas eleições do último domingo, conseguindo assim dois deputados no Parlamento Europeu, não é para qualquer um. Mas convenhamos: Marinho e Pinto encontrou um partido à sua medida. "Como assim?", perguntarão vocês. Ora então reparem: MPT... Marinho e PinTo. Assim não há que enganar. Hã? OK, OK; eu sei que é uma piadinha básica, mas que querem? Isto nem sempre pode ser caviar e lagosta, por vezes ovas de espada e delícias do mar também servem.

Seja como fôr, é com agrado que se adivinham nuvens negras a pairar sobre o MPT cá da aldeia, à semelhança do que já se vinha a anunciar no PS; ai ai ai, quando a cagança sobe à cabeça, é lixado... Isto de não saber lidar com sucessos pode ser meio caminho andado para o suicídio (político). Não deixa de ser engraçado como cada vez mais a Rua da Alfândega volta a ganhar o protagonismo de outrora nesta cidade...
 
Mas falemos de coisas sérias e consequentes, que não podemos levar a vida sempre na reinação, nem nós somos o Marinho e Pinto, "eu-é-que-sou-o-maior-Português-de-todos-os-tempos!". Adiante...
 
Ainda há uns largos dias atrás, estava eu à espera de um documento na Câmara do Funchal (não, não era o edital de condenação ao desterro do Canha & Companhia), quando atentei num cidadão que pretendia inscrever-se para a sessão pública. Então o munícipe chega lá ao guichet do Atendimento ao Público e diz ao que vai, para logo ouvir um "a sessão da última queinta-feira do mês? mas quer mesmo? olhe que não sei se vale a pena, já há tanta gente... vá por mim, isso é perder tempo"; e o homem sempre a insistir, a insistir, e lá finalmente ficou inscrito. Isto trouxe-me à memória o caso daquela prima ou cunhada da Placa Central, que anda de frente para trás naqueles sítios para ter direito a uma singela casinha em condições, coisa a que todos almejam, a par de saúde e trabalho. É certo que nunca passei privações, mas sou sensível a estas coisas (ah!, pois é... ou pensam que eu sou um qualquer Mr. Grey frio e calculista, que não se compadece com nada?).

Entretanto, será que foi chamado para uma conversa íntima na confortável privacidade do gabinete de um qualquer vereador, tendo sido despachado com uma palmadinha nas costas, um saco com pacotes de massa e arroz e a promessa de que desta não dá, mas que não tarda muito e fica tudo resolvido? Foi o mais certo.
 
Posteriormente, tive a oportunidade de ouvir trechos de uma conversa entre duas funcionárias "de topo" da edilidade (isto de ter que ir muitas vezes à Câmara tem destas coisas, uma pessoa acaba por ouvir de tudo um pouco), daquelas assim que já se confundem com a mobília (mas ainda ali a modos para as curvas), queixando-se de que toda a gente ia parar ali às reuniões públicas, por tudo e mais alguma coisa (estradas, esgotos, casas, iluminação, transportes, obras, limpezas, problemas de vizinhança...), que agora era um abuso pelo facto das reuniões serem à tarde e que já tinham saudades dos tempos em que ninguém se lembrava de ali pôr os pés para incomodar os senhores vereadores e, mais importante ainda, os funcionários do atendimento e do apoio. Que chatice, já viram? Tudo começou a mudar a partir dos inícios dos anos 90; malditos comunistas!!! Foram dizer às pessoas que tinham direitos, e pronto, agora é o que se vê e se sabe. Toda a gente acha-se no direito de falar nos seus problemas e nos problemas dos lugares onde vivem...
 
Mas esta má vontade, este enfado, esta pressa em despachar, esta falta de sensibilidade para a coisa pública não é exclusiva deste tipo de serviços. Até nas forças da segurança se nota isto. Uma amiga minha foi vítima de fraude numa compra efectuada pela net e, aconselhada pelo site onde decorreu a transacção, foi fazer queixa à PSP. Chegada ao Comando Regional, e após informar a agente de serviço à entrada da sua intenção de ser ouvida pelo graduado de serviço, e para quê, ouviu um "ah, isso vai dar em nada, fazer ou não fazer queixa é a mesma coisa". A minha amiga não desistiu, mesmo sabendo que o mais certo era o caso acabar arquivado, e respondeu que, acima de tudo, era seu dever enquanto cidadã consciente dos seus direitos e deveres apresentar queixa, quanto mais não fosse para tentar evitar que o prevaricador incorresse em situações semelhantes no futuro, e que o trabalho da PSP passa também por atender aos cidadãos na garantia do respeito pelos seus direitos. Parece que não foi o suficiente, porque enquanto ela lá esteve à espera de ser atendida, a tal agente estava sempre a resmungar... Foi atendida com toda a atenção e diligência por parte do graduado de serviço, e o caso até parece estar bem encaminhado, com boas hipóteses de chegar a bom termo. 
 
Já noutras áreas da Administração Pública, a moda é despachar com um "olhe, escreva um ofício ao nosso Director, a explicar tudo"... É quem nem uma ajudinha, nem perder dois minutos a tentar ver se há solução para o problema ali mesmo, não... Nada disso! Como se TODA a gente, e especialmente os mais idosos, ou pessoas com menos formação e mais avessas a estas coisas dos formalismos, se sentisse à vontade com esse tipo de tarefa; e se não é conhecerem uma pessoa que possa dar um jeitinho a fazer uma cartinha ao computador, mais ou menos alinhavada...

Se a coisa vai à mão, não pode ser; se não se empregam os termos certos e formais, "mas afinal está a falar de quê?"; se falta um dado que seja, já não é analisado o pedido. E o pior é quando aquele ofício não é o princípio da solução, mas sim o começo de um pesadelo burocrático como é o vai-e-vem de correspondência naqueles sítios. E vá lá que já não se usa o requerimento em papel azul de 25 linhas com estampilhas fiscais apensas...
 
Mas pronto, quando o Marinho e Pinto fôr ditador vitalício, e depois de ter mandado pendurar pelo pescoço num candeeiro alto tudo o que é magistrado e político, pode ser que os comboios comecem a circular a horas...
 


 

                        

Cordiais saudações do Vosso

 Mestre Perverso

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